segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Deixe a borboleta voar.

         Rolei e rolei na cama e mesmo me cansando de rolar, não conseguia dormir. Mesmo com sono, não conseguia me perder no mundo dos sonhos. No meu refúgio. Meu porto seguro.
         Engraçado, não é? O mesmo lugar que pode me trazer o inferno com aqueles pesadelos horrendos, pode também levar-me ao céu, mas não é isso que minha borboleta me faz? Me leva ao céu e ao inferno em viagens rápidas durante todo o dia. Certas vezes até me iludo... Tenho a ilusão de estar no céu, enquanto sinto o ácido passar com aquelas coisas nojentas pela minha garganta.
         É tudo tão repugnante. Tão nojento. Tão desprezível... E ao mesmo tempo é reconfortante, é como se o peso fosse embora, como se tudo de ruim fosse simplesmente embora. É tudo o que é descartável, o que é e não é material indo embora junto com aquela água que vai embora, depois de um ciclo digestivo interrompido.
         Eu sei que os problemas não foram embora. Eu sei que eles nunca vão embora. Eles sempre vão estar ali, não vão, minha pequena borboleta? Tão frágil. Está tão branca ultimamente, quase como se estivesse transparente. É como tenho me visto no espelho, quase transparente.
         Na aula, de hoje, aquele momento constrangedor: meu estômago começou a fazer uns barulhos, claro que os outros podiam ouvir. Meu colega me perguntou no intervalo se estava com fome, mas não era fome. Foi aquele chiclete que eu mascava, que fez o ácido ser liberado meu meu estômago e doer e doer e doer...
         Chegar em casa foi um alívio, pude deitar e deixar as lágrimas molharem o travesseiro enquanto me encolhia o máximo que podia. A borboleta surrava no meu ouvido "É inútil tentar se encolher assim, eu ainda posso te ver." 
         Borboleta, por que dói tanto? Por que dói tanto existir? Por que...? Por que minha pequena borboleta?
         Tive que comer algo, a senhora com quem moro tem me dito o quanto eu não tenho comido direito. Até comida no quarto as 6:00 da manhã de um domingo eu ganhei, mas eu queria comer, não por fome... Eu precisava sentir aquele misto de dor e alívio. O céu e o inferno de miar.
         Borboleta, comer também é uma punição, não é? Hoje aquelas batatinhas que fiz questão de comer rasgaram a minha garganta como uma navalha. Você viu o sangue, não viu, borboleta?
Borboleta... Por que eu ainda estou chorando?


Minha luta não é para viver para sempre...
Não quero deixar minha existência marcada no mundo...
É errado não querer existir, borboleta?
Por favor... Me deixe voar com você... Por favor, minha borboleta.

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